O caminho para uma vida Significativa

 

Dvir não hesitou em se candidatar à vaga altamente desejada que viu anunciada no jornal: chefe da equipe de desenvolvimento de software em uma empresa renomada. E, de fato, recebeu um telefonema do departamento de recursos humanos da empresa em resposta.

 

Era o recrutador, que queria entender quais eram as qualificações do candidato, para então iniciar o processo de triagem.

 

Dvir começou a explicar que era trabalhador, leal, que aprendia rápido e possuía uma forte ética de trabalho, além de ótimas habilidades interpessoais e capacidades administrativas. Mas o recrutador queria ir direto ao ponto: Qual a sua experiência em desenvolvimento de software?

 

Se o representante da empresa tivesse sido um pouco mais rude, então, quando Dvir respondeu que não tinha experiência e, para dizer a verdade, nem mesmo possuía o conhecimento básico, ele teria lhe dado uma bronca por ter feito perder seu tempo — antes de bater o telefone na sua cara.

 

Mas o representante foi mais gentil e humano, e se deu ao trabalho de explicar a Dvir que todas aquelas qualidades que ele mencionou eram, de fato, importantes, e que ele realmente desejava que seus funcionários as tivessem — mas a porta de entrada, os pré-requisitos para o cargo, eram conhecimento e experiência relevantes.

 

E já que você não tem o conhecimento, muito menos a experiência — não há do que falar…

 

 

Todos nós queremos ser “aceitos” por Hashem Yitbarach (o Santo, Bendito Seja), queremos ser agradáveis aos Seus olhos. Queremos que nossas tefilot (orações) sejam aceitas; queremos ser contados entre aqueles que temem a D’us e O amam. Precisamos nos adornar com muitas boas midot (qualidades de caráter), com kedushá (santidade) e tahará (pureza) — mas há também um pré-requisito. Uma porta de entrada.

 

Nossa porta de entrada é o estudo da Torá becoach (com esforço, com força)!

 

Rabenu Nachman menciona em seus escritos todas as boas midot e tudo o que é necessário para ser um verdadeiro oved Hashem (servo de D’us), mas seu livro principal se inicia justamente com o conceito do estudo da Torá becoach, e ele explica detalhadamente que essa é a porta de entrada para toda a luz da sabedoria, para o tikun (retificação) da malchut dekedushá (Realeza de santidade), para ser salvo do yetzer hará (má inclinação), para encontrar graça aos olhos de Hashem e para que nossas orações sejam aceitas.

 

Todo judeu — e especialmente aquele cujo anseio é ser um oved Hashem — precisa saber que o portal da vida judaica é o estudo da Torá. E não apenas qualquer estudo, mas o estudo da Torá com força, com esforço – becoach.

 

Rabenu Nachman te diz claramente: se você quer ser um chassid no geral, e particularmente um chassid dele, então há um pré-requisito: uma conexão profunda e significativa com a Torá.

 

 

Essa expressão possui vários significados. O primeiro é o simples: fazer esforço para compreender a Torá. A Torá não é um romance, e certamente não é um livro de encantamentos que se deve apenas balbuciar. A Torá é feita de ideias profundas que exigem esforço para serem compreendidas.

 

Estudar Torá becoach significa que você quer entendê-la — com o objetivo de cumprir as mitzvot. Entender a verdadeira intenção de cada coisa, chegar a conclusões corretas, conhecer as halachot práticas e implementá-las na vida.

 

E isso vale para qualquer pessoa, em qualquer nível.

 

O estudo aprofundado não pertence apenas àqueles que estudam Guemará e as decisões haláchicas das gerações, nem apenas aos melhores alunos das yeshivot. Tudo o que se estuda — seja Chumash com Rashi, halachot, Mishná ou Guemará, ou mesmo livros de mussar (ética) e chassidut — tudo isso pode ser estudado de forma superficial, mas também pode (e deve) ser questionado, investigado, buscado com profundidade, dentro do nível de cada um.

 

Além disso, estudar Torá becoach significa também esforço em termos de tempo: estudar à noite quando se chega cansado do trabalho, abrir mão do sono para estudar — isso é Torá becoach. É um esforço significativo — não é algo simples.

 

Estudar Torá bechoach também significa ter horários fixos de estudo, que não são alterados por nada, e isso inclui, claro, estudar mesmo em dias caóticos e cheios de agitação. Mesmo em dias nos quais parece impossível encontrar tempo para estudar, você cancela tudo o mais — porque a Torá está acima de tudo.

 

E aqui nos voltamos à Beit Yaakov — às mulheres, que se sacrificam e enviam seus maridos para estudar Torá. Vocês não fazem ideia da força que podem dar a seus maridos quando os incentivam a ir estudar Torá, quando ficam felizes por eles não virem direto para casa depois do trabalho, mas irem estudar.

 

Isso certamente é considerado como Torá becoach da parte de vocês, porque — não seria maravilhoso ter mais tempo com os maridos à noite? Mas vocês abrem mão dessa coisa tão preciosa, porque querem que a luz da Torá brilhe em seus lares; querem que os filhos saibam o que é realmente importante na vida; querem uma luz que aumente o carinho e apreço mútuo entre vocês e traga verdadeiro shalom bayit (paz no lar); uma luz que aumente o favor de Hashem sobre vocês, para que suas orações sejam aceitas com amor e boa vontade; e uma luz que aumente o favor dos filhos diante do mundo — que todos que os virem reconheçam que são filhos abençoados por Hashem, que serão bem-sucedidos na aquisição da Torá e do yirat Shamayim (temor do Céu), os únicos prazeres e a única felicidade verdadeiros neste mundo.

 

Na mesma lição com que Rabenu Nachman começa seu livro, ele menciona outra vantagem do estudo da Torá bechoach: ser salvo do mais perigoso yetzer hará.

 

Porque o yetzer hará mais perigoso é aquele que se disfarça de mitzvot, e depois que captura a pessoa, a faz realmente enlouquecer — essas são as palavras do próprio Rabenu Nachman! — e então pode fazer o que quiser com a pessoa.

 

Vemos pessoas boas, honestas, gentis, que em algum momento perdem suas vidas — material e espiritualmente. Em nossa geração, o yetzer hará está, por assim dizer, em festa, e está causando muitos estragos. Não temos Cúpula de Ferro ou qualquer outro escudo contra os bombardeios constantes do yetzer hará — a única coisa que pode nos ajudar é a sagrada Torá, que nos protege e salva de todos os perigos — materiais e espirituais.

 

 

E, claro, é necessário também ter tefilá (oração). A Guemará conta como os habitantes de Alexandria perguntaram ao Rabi Yehoshua ben Chanania:

“O que a pessoa deve fazer para se tornar sábia?”

Ele respondeu: “Estude muito e trabalhe pouco.”

Eles então disseram: “Muitos fizeram isso, e não deu certo para eles.”

Ele respondeu: “Peçam misericórdia Àquele a quem pertence a sabedoria.”

 

E a Guemará conclui de forma clara: “Uma coisa sem a outra não funciona.”

 

Ou seja, Torá e tefilá são dependentes uma da outra.

Aquele que estuda muito e trabalha pouco, mas não reza, não terá sucesso em sua Torá.

E aquele que reza para conseguir estudar, mas não estuda de fato, também não terá sucesso.

É preciso estudar e rezar.

 

E não há momento melhor do que estes dias, em que estamos recebendo a Torá — antes, durante e depois de Shavuot, a Festa da Entrega da Torá — para rezar para que sejamos merecedores da luz da Torá, que mereçamos nos esforçar na Torá, que tenhamos horários fixos de estudo, e que alcancemos uma compreensão verdadeira da Torá.

 

E tudo isso deve vir junto com compromissos práticos: aumentar nossas aulas de Torá, nossas sessões de estudo, o daf yomi e qualquer outro estudo de Torá que possamos acrescentar ao nosso dia a dia.

 

Que Hashem Yitbarach nos conceda o mérito de verdadeiramente nos esforçarmos na Torá, estudá-la com todas as nossas forças — cada um conforme seu nível e condição — e aumentar sempre mais o estudo da Torá.

E, em mérito disso, que possamos entrar no palácio do Rei e sermos contados entre os Seus servos e os Seus amados.

 

Amén!